“Apesar de suas rigorosas convicções, o mundo não funciona exatamente num sistema tão irretocável e preto e branco… Mas em milhões de tons de cinza. Eu sou um deles. Goste ou não, você também”.
Sabem o papo de “você pode, é só querer, se esforçar e nhenhenhe, blablabla (…)”? As coisas não são tão bonitinhas assim. Ao ver histórias desse gênero você sente que falta algo mais pra chegar nesse nível.
Mais uma vez tenho o privilégio de escrever sobre uma história desenhada por Lee Bermejo, e como se não fosse suficiente, roteiros de Brian Azzarello. Dois de meus desenhistas/roteiristas preferidos.
Como de costume em histórias do Azzarello, a trama é bem urbana. Quase tudo nessa história é “pé no chão”, e temos a oportunidade de conhecer o “Deathblow”, que ao contrário do que alguns pensam, é um personagem. Digo isso porque já vi algumas pessoas achando que “Deathblow” era só o título da história, coisa que também é de certa forma errada, pois o título ainda tem um “After the Fire” em seu total.
“Batman/Deathblow” foi lançada em 2002, vocês encontram aqui no Brasil com o mesmo titulo, lançado com capa dura pela Panini anos a frente. Antes de entrar em detalhes já adianto a vocês, vale a pena ter aí na sua estante.
Tens medo de fogo? Cuidado dobrado After the Fire.
Azzarello e Bermejo. Complicado pensar em que nome citar primeiro nessa dupla, fico com a velha ordem alfabética mesmo, pois em qualidade… Ambos são mestres no que fazem. Brian Azzarello fez um trabalho dos grandes nessa história. Já li reviews em outros sites dizendo que a história não tinha nada demais e que a “única salvação é arte do Bermejo”. Besteira.
O roteiro na verdade é complicado, e ser complicado não necessariamente faz ser ruim. Claro que tem roteiros que ficam tão complicados que comprometem a obra, mas não é esse caso. Talvez a maior dificuldade sejam os flashbacks que no geral tem a mesma cara. Se você não estiver lendo com atenção, você acha que está no presente e na verdade está no passado.
Como deve ter dado pra notar, a história se passa em dois tempos, Gotham atual, e Gotham há 10 anos. Na atual o herói é o morcego, Bruce Wayne, na de 10 anos atrás é o Deathblow, Michael Cray. Em ambas épocas o “vilão” é o mesmo, Maxwell Kai.
“Oi, eu sou chinês e a internet aqui é censurada, quando abro o Google aparece o rosto do Bruce Lee dizendo ‘Seja água’ e o pc trava. Não tenho como pesquisar esses nomes todos”.
Vamos lá, quem são Michael Cray e Maxwell Kai. Michael Cray é um soldado/agente secreto/Pau-mandado da CI (Comando Internacional), e o título”Deathblow” que ele carrega como codinome é apenas um “cargo”, assim como maioria dos nomes de herói. Um morre, entra outro no lugar usando o mesmo nome. Mais a frente veremos que já existiram dúzias de Deathblows, e que a carreira deles é curta porque é perigosa pra caramba. Alguém aí pensou “as do Batman também são loucura e o velho Bruce ta aí firme e forte pra contar sobre como escapou de todas”? É, mas ele não é um simples soldado como o Deathblow.
De aparência, Michael Cray tem o semblante do Dolph Lundgren tomado de anabolizantes. Bandana/touca, um listra vermelha na vertical descendo de cada um dos olhos, e o resto não tem grande grife nem detalhe, o sujeito é um soldado, se ele precisar matar alguém vestido de bailarina, mendigo ou pelado, ele vai matar. E vai deixar a carta branca com duas listras vermelhas na vertical, é a sua carta da morte, carta esta que começa boa parte da confusão na trama do “presente”.
Na Gotham de 10 anos atrás, Deathblow caçava o líder terrorista conhecido como “Falcão”, e acabou topando com Maxwell Kai que, sozinho, levou a missão ao fracasso. Como um homem pode ter sobrevivido a uma investida do Deathblow e feito o sujeito com uma carreira invicta ter tido sua primeira falha?
Max Kai não é um simples homem, ele é um pirocinético. Cuidado vocês com mente suja, pirocinético quer dizer que o rapaz tem o poder de criar fogo com a mente. Não é bem como o Pyro dos X-Men. O Pyro não “gera” fogo, ele apenas manipula o fogo já feito, já o caso do Kai é diferente, ele CRIA o fogo.
É um personagem que, ao longo da história, vocês talvez vão até passar a gostar. É misterioso, leal, importante pra diversas pessoas e fins, e só quer paz pra si mesmo. Só não abandona o jogo porque não pode. Fora que sua habilidade é um tanto especial.
Se formos tentar pegar alguém de estilo parecido para representar sua imagem… Vamos de Tyler Durden no Clube da Luta. Junta personalidade, aparência bacana e uma habilidade especial, fica difícil dizer que é um personagem qualquer. Eu particularmente curti mais o Max Kai do que o Michael Cray em si. Personagem com muito mais background.
Claro que cada mínimo detalhe de como a trama deve ser, cada fala, atitude, ação dos personagens… TUDO nesse aspecto é obra do Brian Azzarello. Claro que ele não criou o Batman, não criou o Deathblow, não criou o Kai, não é o “criador” de nada nessa história. Assim como o atual melhor atirador do mundo também não foi o criador das armas de fogo. Azzarello fez bom uso do que tinha disponível.
Quanto aos desenhos, aí concordo com qualquer site por ai, Lee Bermejo faz estrago em tudo que toca. Ele é quase o contra-peso do Rob Liefeld no universo. Este último que citei é quase um alquimista, tudo que ele encosta vira merda. Mas o Bermejo está ai para não nos fazer perder a fé numa boa arte, e fiquemos todos gratos do Liefeld não ter NADA a ver com essa história.
Se formos pegar os traços DESSA história que o Bermejo fez e compararmos com histórias mais atuais como “Batman – Noël”, dá pra notar boa diferença. O Bermejo evoluiu. Sim, ainda havia pra onde evoluir. Com isso não estou dizendo que a arte dessa HQ esteja “pior” que a Noël, só diferente em alguns aspectos que em nada condenam a obra total.
Eu poderia novamente detalhar como é o Batman segundo os traços do Bermejo, falar dos olhos por dentro da máscara, costuras, fivelas, o cinto de utilidades de tamanho plausível, falar dos detalhes mínimos das dobras de capa e etc… Mas não vou entrar nesses detalhes todos novamente, serei mais específico no que essa história tem de único. O aspecto “queimado”.
Não temos cinzas de cigarro nem páginas queimadas, nada disso. Temos um estilo obscuro de desenhar, e também de colorir (lembrando que não foi o Bermejo a colorir essa história). Talvez eu tenha sido redundante em dizer “estilo obscuro” em uma história do Batman, mas essa é obscura em totalidade, não é só o cenário e os personagens, parece que até o PAPEL usado é outro diferente do comum, algo mais amarelado, antigo… Não sei explicar bem isso, sei que ficou muito bom. Tudo muito detalhado, com sombras e pouca repetição.
Eu acho que vendia metade da população do mundo pro Sinestro pra ver uma história do Asa Noturna desenhada pelo Bermejo. O roteiro podia ser do Azzarello ou do próprio Bermejo mesmo, que se mostrou competente pra tal em “Noël”.
Lee Bermejo sempre tem cuidado absoluto em cenários, proporções físicas e roupas. Tudo é sempre pensado nos mínimos detalhes, seja um fio solto aqui ou um poster no muro ali. Ele aproveita ao máximo o espaço, dificilmente você verá uma parede sem algum detalhe especial, seja simples sujeira proposital ou detalhes de construção. Tudo impressionante.
Agora indo ao “After the Fire” em si:
Começamos na Gotham de 10 anos atrás, mais exatamente no bairro oriental. Michael Cray (Deathblow) e seu companheiro Scott. Este só bizolhando com uma luneta de dentro de um quarto de segundo andar enquanto Deathblow está na chuva aguardando a exposição do alvo. Não demora muito e o tal alvo aparece.
Michael pega a tinta vermelha e passa embaixo dos olhos, conforme falei mais acima, e parte pra missão com arma em punho. Seguindo seu alvo ele passa por corredores, escadas, salas e diversos orientais, como era de se esperar em um bairro oriental. Por fim ele encontra resistência por parte de um oriental armado, que usa seu próprio amigo/comparsa como escudo. Deathblow bota os dois pra papear com o Zé Maria e vai embora.
Zé Maria pra quem não sabe é a ilustre “morte”. Pro povo do voodoo é o Barão Samedi, pros americanos é o Grim Reaper, e pra nós é o Zé Maria. Cada um tem a morte que merece, né?
Enfim, a história avança 10 anos a frente. Estamos agora em uma estrada onde há um pedágio logo a frente. Se não prestarmos atenção nos desenhos, deixaremos passar algo muito importante. Vemos um sujeito de óculos escuros dirigindo enquanto ouve música, então em um quadro pulamos para dentro do carro de trás, onde um casal de irmãos pequenos briga no banco de trás, a menina reclama, os pais dão sermões pra trás… Papo comum, mas enquanto essa cena ocorre, podemos ver o carro da frente pelo para-brisas, o motorista deixando algo na lixeira do pedágio.
Esse é Maxwell Kai, deixando a mão decepada e carbonizada de alguém, com uma carta semelhante a uma carta de baralho, toda em branco exceto pelas duas listras vermelhas na vertical. A carta de morte do Deathblow. O pai da família do carro de trás encontrou aquilo e ficou paralisado.
Ainda no tempo presente, temos um restaurante com música ao vivo que conta com 3 personagens importantíssimos na platéia, reunidos em uma mesa. O tal parceiro do Deathblow, o Scott, uma mulher da CIA chamada Carla, e Bruce Wayne, o tal do Batman.
Falam sobre dinheiro, verbas, criatividade… Papo de aranha do qual Bruce tanto tenta fugir. É mais fácil ser Batman e bater mais do que fala, não? Claro que não. Sabemos que o Batman tem tanto intelecto quanto força, a questão por trás disso é apenas que porradas resolvem mais do que palavras, e ele como gênio que é descobriu isso cedo.
Bruce retira-se do local, e enquanto acerta o local de entrega da conta, leva uma esbarrada de ninguém mais ninguém menos do que Maxwell Kai. O sujeito ainda dá uma baforada de fumaça de cigarro na cara do Bruce. Nem imaginava quantos ossos podia ter quebrado em outra ocasião.
Bruce se disfarça com um de seus vários personagens, como Knox Canhoto ou Fósforos Malone e vai a uma loja de penhores, aparentemente recolher informações do submundo, e descobre algo sobre a tal mão carbonizada deixada na entrada da cidade. Dali seguimos direto para as ruas, onde o Comissário Gordon e os demais policiais recolhem o corpo de um sujeito que foi assassinado por um atirador, um headshot dos bons, digno do Pistoleiro. Mas ele não tem nada a ver com isso.
Gordon vai ao terraço e troca uma letra com o morcego. Bruce aborda o assunto da mão com a carta de morte que até então tem remetente desconhecido para ambos, mas Batman recebe um alerta do Alfred para dirigir-se ao restaurante do qual saiu há pouco tempo. Chegando lá de volta a paisana sem as bat-traquitanas, a tal Carla informa que o Scott simplesmente pegou fogo, mas não foi uma chama que começou pequena, segundo as aparências foi como uma bomba incendiária que foi detonada. Mas nós sabemos que não teve bomba nem detonador.
Bruce levanta suas suspeitas na figura que assoprou fumaça nas suas ventas mais cedo. O maior detetive do mundo começa a “detetiviar” na mesma hora, liga uma câmera no botão de seu blazer, manda Alfred vasculhas o sistema da policia atrás do inquérito da mão decepada e foi ao hospital falar com Scott.
O tal Scott, que há 10 anos atrás foi parceiro do Deathblow… Agora está com queimaduras de terceiro grau em 95% do corpo e 78% das queimaduras atingiram órgãos e músculos. Sem chance de recuperação. Bruce foi direto: “Você sabe o que isso significa… sinto muito”, e garantindo-se no fato de que o sujeito não tinha muito tempo, revelou ser o Batman, e disse que podia pegar o assassino. Surge então o nome Deathblow no conhecimento de Bruce Wayne.
Voltamos 10 anos no tempo, no dia da missão de Deathblow, na qual Scott era seu parceiro. Na verdade, esse flashback é uma continuação direta do outro, no momento em que ele mata os dois orientais que tentaram reagir.
A confusão do Deatblow continua no mesmo local, agora um monte de orientais armados dão as caras, e todos terminam mortos. O agente da CIA mostra ser bastante profissional com o par de pistolas. Façam suas apostas, Deathblow ou Jason Todd? Brincadeira.
Não demora e ele dá de cara com Max Kai, e este nem se dá ao trabalho de grandes feitos, acende uma verdadeira pira contra Deathblow e faz o cara ter que bater em retirada imediatamente, saltando fora do prédio em uma explosão estilo as de filme. Do lado de fora, Scott o recebe e o ajuda a entrar no carro.
De volta ao presente, Max vai fazer uma visita a um personagem já mostrado na história, porém ainda não “apresentado”, lembram o “alvo” que Deathblow começou a perseguir no inicio da história? Pois é, o próprio.
Até este ponto da história vocês já tiveram oportunidade de ver quadros verdadeiramente brilhantes. Pra se desenhar desse jeito não basta “saber” desenhar assim, você tem que ter quase a mesma noção que um decorador de ambientes tem para escolher e organizar os móveis e objetos do interior, e saber o lugar certo de cada coisa. A mesma noção que um estilista tem para fazer roupas tão bem detalhadas e com caimento, a mesma noção que um arquiteto tem para fazer as construções… Tem que ter um bom conhecimento da anatomia humana para detalhar os corpos.
Se observarem o quadro do “oriental que era alvo”, vão vê-lo diante de uma daquelas bandejas com garrafas e whisky, e copos, cada garrafa com seu formato, tudo obviamente pré-definido, o desenhista tinha que saber tudo o que normalmente vai numa bandeja dessas. Lee Bermejo é um ponto de luz dentro do conceito de arte. É um privilégio nosso ter alguém como ele nesse setor de quadrinhos, que tanto gostamos.
Certo, sem rasgação de seda. História. Max Kai vai ao encontro do homem, mas a história vai a um flashback, também com esse oriental, mas no flashback a “visita” que ele está atendendo não é Max, mas Deathblow. O nome do tal oriental é “Chen”. Deathblow o interroga para saber do tal líder terrorista chamado “Falcão”, sem sucesso.
De volta ao presente damos de cara com o encontro de Max e Chen. Eles conversam bem pouco e Max explode tudo. Pelo visto Max está com uma listinha de coisas a fazer. Primeiro deixa a mão carbonizada com a carta do Deathblow perto do pedágio, depois incendeia Scott e manda Chen pelos ares. Até agora, só pessoas envolvidas naquela noite.
Já na Batcaverna temos um diálogo bom e esclarecedor sobre a história do nome Deathblow, sobre Scott e etc, e a seguir Bruce já está coberto pelo manto do morcego, no alto de um prédio observando um incêndio. Imagem linda também, digna daquelas concept art de jogos.
Onde há fumaça há fogo, e onde há fogo, há Max Kai. Batman observa do alto procurando.
Flashback again. Scott e Deathblow novamente no encalço de Max Kai, mas este estava mais que ligado nos arredores e armou um susto com chamas pro Scott, mal podia imaginar que no 10 anos a frente esse mesmo homem o queimaria por completo. Max foge e Deathblow vai atrás, Scott fica no chão mas diz estar bem. O incendiário consegue deixar Deathblow pra trás usando umas chamas para atrapalhá-lo.
De volta ao presente, Bruce já tem a ficha de Max (só então finalmente temos o nome completo do cidadão) e debate possibilidades e coincidências com Alfred. Bruce se disfarça novamente para tentar uma aproximação.
Se a cada flashback ganhássemos 10 reais, a essa altura já podiamos ter comprado o SBT, que nem deve estar tão caro. Esse flashback nos deixa de cara com a Torre Kane. Pra mim isso foi só uma homenagem a Bob Kane, e em nada tem a ver com a família de Kate Kane (Batwoman). Bom, ness aparte da história, há 10 anos atrás, já é depois dos dois encontros com Deathblow, aparentemente Max está querendo partir de Gotham. Entra em cena o “Sr. Blue”, com quem Max aparentemente tem um rabo preso.
Papo vai e papo vem, descobrimos que Max trabalha pra uma agência, e que Max não pode abandonar o barco quando bem entende. Sr. Blue apresenta… Carla. A agente da CIA que estava com Bruce e Scott no início da trama. A tal Carla diz que já providenciou o desaparecimento de Max para este não ser mais caçado, e Sr. Blue diz que eles estão em débito com Max. O que foi que Max fez para ficarem em débito com ele?
Ao presente novamente, Bruce tira seu disfarce em um terraço e já vestido de morcego salta para dentro de um prédio, e uma vez lá dentro, rapidamente Batman e Max estavam cara a cara. O incendiário não é idiota, ele sabe que porrada com o Batman não é jogo, jogou umas chamas pra cima do Morcego e picou mula de lá. Isso não deteve o Batman, ele ainda alcançou Max e lhe deu uma porrada, e sentindo o peso da mão do capa-preta Max caprichou nas chamas dessa vez e conseguiu fugir.
Agora em um estacionamento, a tal agente Carla é surpreendida por um Batman sem soluções e em busca de resposta. O morcego sai de uma sombra e segura a mulher contra o chão, ela diz que Max não tem medo dele, e Batman pergunta a ela do que o Max tem medo. Dá pra ver uma das principais e mais antigas teorias do Batman sendo aplicadas ao pé da letra. O medo. Ele se veste de morcego para botar medo, mas se a roupa de morcego não põe medo ele se adapta a usar algo que vá deixar seu alvo com medo. Ele procura o medo e a fraqueza do seu oponente.
Sai uma sequência de flashback seguido de presente em poucos quadros, no flashback temos Scott e Deathblow disfarçados esperando por Max, e no presente, temos a agente Carla tendo uma conversa com Max em um cinema, sobre interesses e motivos, e Max revela de quem era a mão deixada no início da história.
Carla entra em seu carro, encontra um envelope com fotos suas que na certa não deveriam existir, e na ligação, Batman pergunta se ela gostou, e afirma que em Gotham, ele é onipresente. Senhor deus morcego.
A correria entre quadros do passado e quadros do presente continuam, no presente, Batman disfarçado manda Carla ficar em um beco virada pra parede e a interroga, enquanto nos quadros do passado temos Deathblow abordando Max e Carla. A sequência apesar de confusa é esclarecedora. Como isso pode ser possível? Simples, tanto no passado quanto no presente, todos os mistérios a respeito de Max e Falcão se desvendam.
[Alerta de spoiler! Se deseja ler, selecione o texto a seguir]. Falcão na verdade trabalha pra CIA, assim como Deathblow e Scott. “Mas ele não era um líder terrorista?”. Sim. Mas a CIA investiu na idéia de quebrar os grupos terroristas de dentro pra fora, ou seja, atacar como um grupo semelhante. Falcão e seu grupo eram como “os terroristas em nome da CI”, mas Falcão perdeu a “utilidade”, a CI decidiu eliminá-lo e enviou Deathblow e Scott, também agentes da CI, pra matar a “célula terrorista CI” do Falcão
E Maxwell Kai? Ele também era um dos “filhos de interesse” da CI, mas na verdade tinha mais lealdade ao seu empregador, o Falcão.
Porque a confusão estava grande? Porque Deathblow e Max não faziam ideia de nada disso. Deathblow só sabia que tinha de pegar o Falcão, Max só estava protegendo o cara, e nem Deathblow nem Max sabiam que o Falcão também era da CIA. Ou seja, haviam “3 faces” da CI Aem conflito, o Falcão (alvo), Deathblow e Kai (cegos no tiroteio) e Scott e Carla (os sabichões).
Nem tão sabichões assim, pois eles só sabiam que o Max tinha algum vínculo com a CI, mas não sabiam que ele era leal ao Falcão. [Fim do spoiler]
Todo mundo ali tinha algum segredo pro outro. O único que estava 100% de otário era o Deathblow. Não é de se espantar o porque de já ter havido 39 Deathblows.
Meio enrolado, mas isso é que dá graça a qualquer roteiro, você entender a complexidade. Três vivas pro Azzarello, essa foi uma sequência de esclarecimento daquelas que vale a história e ao mesmo tempo de dá vontade de ler as poucas páginas que restam voando pra saber o que acontece.
“O mundo não é uma moeda, Deathblow. Muito menos redondo. É como um diamante… cheio de faces”.
Scott dá um chute no Max, Deathblow dá uma coronhada no Scott, Bruce dá um vácuo na Carla e vida que segue. Todo mundo se separa tanto no presente quanto no passado.
No presente, temos Carla e Max conversando em um dirigível, um lugar tão comum pra um encontro, não? Max diz que o tempo todo trabalhava pro Falcão. Carla leva um espanto duplo, primeiro pela informação, depois por ver Deathblow aparecer do nada ali. Era Bruce Wayne vestido de quem dava medo em Max.
Mas o pirocinético derrete a faca que o Bruce estava usando e ainda joga Carla pela vidraça do dirigível, Bruce salva a mulher, e então Max e Bruce vão pro topo do dirigível, Max devolve a capa de Batman ao “Deathblow”, começa uma pancadaria na qual Max só conseguiu dar um soco por ter sido covarde. No meio da briga um helicóptero aparece, provavelmente da CIA, abrem fogo no Bruce e no Max, e na fuga, um atirador acerta Max. Bruce pega uma seringa pra injetar algo que fosse ajudar, mas Max derrete a agulha para não ser salvo.
Max morre diante de Bruce, deixando apenas algumas belas palavras sobre sacrifício e perda de tempo.
Par fechar a história, novamente temos um flashback, mas esse não continua do ponto onde o último parou, esse flashback é mais antigo que todos os demais, esse é de ANTES do Chen ir as ruas e Deathblow o seguir. Esse é do Max conversando com o Falcão no momento em que Chen está indo pra rua. Falcão diz que tornou-se inútil pra quem trabalha, que as pessoas a quem ele é leal, o consideram um traidor. Que ele não tem mais função nem pátria. Max não o abandona, apesar do Falcão lhe dar passaportes e ordem para se mandar, e não só permanece ali como também jura que dali a 10 anos fará com que todos as pessoas que o traíram se atraquem para encontrá-lo.
Falcão ameaça pegar uma arma, Max com um facão decepa a mão do Falcão, taca fogo no cara e assiste o churrasco. No último quadro vemos apenas o cadáver carbonizado do Falcão, faltando a mão direita. Mesma mão que foi deixada no pedágio de Gotham 10 anos depois e desencadeou toda bagunça que deu combustível pra essa história.
Deathblow foi um total laranja nesse papo, a história deveria se chamar “Batman/Kai”. O sujeito roubou a cena. Essa foi uma história excelente, e espero que vocês comprem se tiverem oportunidade. É uma real obra prima dos quadrinhos, em todos os aspectos.
3 edições em um único link!
Lembrando que para fazer o download no 4shared é só clicar na capa; o link para outros servidores está logo abaixo da capa!
