As histórias de Batman não costumam abordar a temática religiosa. Aliás, há diversos tópicos de discussão sobre a religião de Batman, você pode ler alguns clicando aqui, aqui e aqui.
Só por isso já podemos criar expectativas a respeito de “Batman – O Cálice”.
Já “O Santo Graal” é recorrente na literatura: esse tema desperta a imaginação das pessoas. A “Lenda do Santo Graal” trata sobre um cálice que teria sido usado por Jesus Cristo na Última Ceia, e a que são atribuídos poderes mágicos e sagrados. Primeiro como lendas e depois como relatos historiográficos, desde o século 12, quando foi citada pelo francês Chrétien de Troyes. A figura de José de Arimatéia foi definida como primeiro detentor (que recolhera o sangue de Jesus com esse cálice) e encarregado de proteger esse objeto. Desde então, uma série de romances medievais se propõe a recontar a trajetória desse objeto desde Jerusalém até a Inglaterra – e é procurada pelo Rei Artur e pelos Cavaleiros da Távola Redonda, para devolver a paz ao reino de Camelot.
Enfim, eu poderia falar mais e mais sobre essa lenda que já inspirou tantos filmes, livros, documentários, pinturas, músicas, quadrinhos e tudo mais, porém acho que já deu pra sacar que nessa HQ estamos lidando com um grande mistério da humanidade. Vamos para “Batman – O Cálice”.
A HQ começa com um detalhe bem interessante: a dedicatória de Chuck Dixon. É a seguinte:
“Ao padre Johns, o único da Igreja de St. Andrews que lia a página de quadrinhos do jornal de domingo no púlpito.”
Um misterioso pacote chega à Mansão Wayne. Endereçado a seu pai, Thomas Wayne, numa elaborada letra escrita à mão. O envelope parece ser de couro, e está lacrado com cera. Certamente trata-se de uma brincadeira bastante engenhosa. Mas ao analisar o objeto na bat-caverna, Bruce descobre que se trata de um livro de encadernação irlandesa e papel de linho italiano. Uma lista de nomes. Batman é descendente de um dos Cavaleiros da Távola Redonda.
Bruce vai ao encontro de Lorde Peter DeWettering, que informa sobre seu passado: ele pertence à Casa de Gevain. E também o fala sobre o futuro: ele tem uma obrigação de sangue a cumprir. Uma obrigação cuja linhagem de Wayne arcou muitas vezes. Cuidar de um objeto mais precioso que sua vida. O cálice onde o sangue do Messias foi depositado, e que deve ser guardado com a vida. Mas porque confiariam um objeto tão precioso à Bruce Wayne, já que sua figura é a de um playboy irresponsável? Será que o Lorde sabia que o Guardião de Gotham é uma das únicas pessoas vivas capazes de ser o Guardião do Graal? Com os poderes do Cálice, Batman poderia oferecer a redenção a Gotham – assim como o rei Artur buscou a redenção de Camelot. Mas não foi essa a missão dada a Wayne. Ele deve proteger o cálice, não usá-lo.
Mas… Protegê-lo de quem? Batman não tem certeza… Mas tem uma vaga idéia. A notícia se espalha pelo submundo de Gotham, depois dos rastros da morte criminosa e violenta daqueles que entregaram o objeto a Wayne.
Existe alguém que, desde o início dos séculos, cobiça o Graal. Já quase obteve a peça por três vezes na história, mas em todas elas ele perdeu o objeto – e descontou sua ira massacrando pessoas inocentes e criando conflitos que perduram até hoje. Ra’s Al Ghul. Ele precisa desse objeto para aumentar seu poder, para expandir seu reinado sobre a Terra e saciar deu desejo por imortalidade. Ra’s é sempre tão egoísta e interessado em si mesmo… Ou será que não?
Uma perigosa irmandade de Merovíngios também está à procura da taça, para que volte ao lugar de onde nunca deveria ter saído: de dentro da própria irmandade.
Pinguim também deseja obter a Taça. Para tal, ele contrata os serviços da Mulher-Gato, perita em roubos e crimes.
Essas pessoas não medirão esforços para obter o Graal, um objeto realmente raro e milagroso, que se cair em mãos erradas pode mudar o curso da vida humana sobre a Terra.
A HQ tem um desfecho surpreendente.
A religiosidade dos personagens, tema pouco explorado como eu disse no começo do texto, é trabalhada de forma interessante. Ao analisar o objeto, ela encontra um padrão binário. E trava o seguinte diálogo com Bruce:
“- Você disse que é um artefato religioso?
- Um objeto sagrado. Eu vi a prova! […] Um milagre. Ele tem poderes de cura.
- Eu não creio em milagres.
- Mas esse é real, Bárbara!
- Para milagres funcionarem, é preciso ter fé. Eu não tenho essa fé.
- Você não acredita em Deus?
- Não é isso. É outra coisa. Eu não… Vou continuar trabalhando. Desligo.”
Após desligar, ela revela o padrão binário encontrado na taça. Um trecho da Bíblia, encontrado em Marcos, 14: 32: “E foram a um lugar chamado Getsêmani…”
Ra’s Al Ghul também fala sobre a figura de Cristo.
“O objeto pertenceu a um ser que até eu saúdo. Não por amor, mas por respeito. O cálice é poder. Além do tempo. Além do espaço. Além da lógica humana.”
Também achei bem interessante o início da HQ, com uma narrativa de um cavaleiro medieval corajoso e ousado destinado a proteger o Graal – pelo qual estava disposto a dar a sua própria vida. O texto diz:
“Seu dever era encontrar um artefato: O Cálice de Cristo. Nem todas as hostes do Inferno poderiam detê-lo. Apesar de terem se erguido de todos os lados, seu lado era o da Justiça.[...] Nem a tentação da carne ou a promessa de tesouros terrestres poderiam influenciá-lo. ”
Os trechos em negrito não parece descrever exatamente a retidão de caráter de Batman, e sua obstinação com a promessa que fizera aos seus pais?
Eu realmente gostei dessa HQ, apesar de alguns comentários negativos da crítica. Achei a temática incrível, e pensar que Batman pertence a uma linhagem milenar é interessante. Introduzir o mito do Graal a um personagem tão envolto em mistério como é o Batman foi uma combinação que, na minha opinião, deu muito certo. Eu adoro os trabalhos do Chuck Dixon, acredito que ele é um roteirista que SABE trabalhar com Batman.
A arte de John Van Fleet então dispensa maiores comentários. Sua técnica é bastante singular, e colabora para o tom de mistério que cerca toda a história do Graal. Os momentos são mostrados através da expressão dos personagens – basta perceber a diferença na expressão de Wayne quando falam de seu pai, sua face se ilumina, assim como seu coração. E o cálice também traz mais vida ao seu olhar.
Destaque para os cenários criados por Fleet, bastante poderosos na minha opinião, e para a presença da Mulher-Gato, com uma linguagem corporal bastante chamativa e aparições vivas e engraçadas – em contraste com uma trama de temática densa e quase sobrenatural.
Para mim definitivamente valeu a leitura, e eu tenho certeza absoluta que você vai gostar. É uma HQ tão bacana e tão preciosa que eu estou até com invejinha do ganhador do sorteio!
Falando nisso, agora que você já leu sobre essa HQ, vamos conhecer o sortudo que levou essa maravilhosa edição?
Antes disso, preciso dar um agradecimento especial ao André Mendes, que foi quem intermediou e possibilitou esse sorteio. Obrigada, André!
Então, vamos saber quem ganhou?
O ganhador foi o Roberto Ribeiro! Parabéns!
Entrarei em contato com você. Por favor, responda dentro de 24h, senão irei realizar novamente o sorteio (conforme o Regulamento).
E se você não ganhou, não fique triste! Faça um favor a você mesmo e baixe essa incrível HQ!
Para download no 4shared: clique na capa.
O link para download no MEGA está logo abaixo da capa.
